sábado, 9 de outubro de 2010

As águas e o Dilúvio



Esta semana, depois das variadas festas, estudamos a Parashá Noach.
Depois da Criação, os homens perdem o contacto mais imediato com D''s, o Criador.
Mas, por que as águas foram o destino final daquela geração, que pela descrição da TORÁ era 'exclusivamente mau todos os dias'(Bereshit 6:5)?

Antes de colocar ordem na Sua Criação, as águas cobriam toda a estrutura universal. Sabemos disso pelo que diz o verso:
"E disse D''s: Haja expansão no meio das águas e que separe entre águas e águas! E fez D''s a expansão, e separou entre as águas debaixo da expansão e entre as águas de cima da expansão. E foi assim. E D''s chamou à expansão, céus. "
Bereshit 1:6-8a


As águas de cima, H'Shem as chamou de שָׁמָיִם (Shamaim). A palavra hebraica com a qual designamos céus é Shamaim.A que chamamos de água é Maim (מַּיִם).
Portanto, penso eu que realmente, quando H'Shem criou todas as coisas, as águas formam a primeira, aquela em que o contacto do CRIADOR, Bendito Seja, era real, como diz a passagem:

"E a inspiração de D''s movimenta-se sobre a face das águas"
Bereshit 1.2c


Bem, agora voltando no 'por que' de H'Shem ter destruído aquela geração num dilúvio.
Conta-nos o Midrash, que durante 10 gerações que deram povoação à terra, os homens idolatraram os astros celestes como se fossem 'deuses'. Sol, lua, estrelas, cometas.
Toda adoração a estes astros traziam cada vez mais insensibilidade e imoralidade aos habitantes da terra.
Foi então que H'Shem irou-se.

H'Shem, o verdadeiro Criador do universo, poderia ter castigado imediatamente os pecadores, mas não o fez. Aguardou, pois tinha esperança de que as pessoas se arrependessem de praticar a idolatria e servissem somente a um D'us único, reconhecendo Sua grandeza.
Porém, não foi o que aconteceu.

A geração em que Noach vivia era a mais baixa de todas: além de servir aos ídolos, seu comportamento imoral os rebaixou de tal modo que agiam como animais, e não como seres humanos criados à semelhança do Criador. Praticavam atos imorais, matavam e roubavam uns aos outros, não se importando com a vida nem com a propriedade alheia. Praticavam estes atos abertamente em público, pois não fazia diferença alguma, já que ao serem julgados em um Tribunal, o próprio juiz e testemunhas - por serem igualmente inescrupulosos - nem se davam ao trabalho de punir os culpados. O mais forte inibia o mais fraco, e este o mais fraco que ele, e assim em cadeias. Não havia ética alguma, desde o mais poderoso até o mais ínfimo ser-humano. Eram todos destituídos de um nível espiritual elevado.

H'Shem, então, se revela a um único Tsadiq (justo), um homem que era reto e temente ao Criador, que havia encontrado em sua descêndencia Adâmica o valor do Ciador:Noach.
Após longa detalhação de como faria para salvara a si e sua família através de uma Arca (Tevá), e sua contrução, que durou aproximadamente 120 anos (não me detalharei nisso), H'Shem envia então o Mabul, Diluvio.
Agora vem aquilo que gostaria de explicar. Por que com águas?
Uma das respostas é explicada através da seguinte parábola:

O midrash continua contando:

O rei e as pessoas mudas

"O rei estava de bom humor. Anunciou a seu ministro:

"Desejo alegrar algumas pessoas desafortunadas. Convide ao meu palácio um grupo de pessoas pobres e mudas. Trate-as generosamente! Dê-lhes comida requintada e vista-as lindamente."

O grupo de pessoas mudas foi convidado e todos passaram um tempo muito agradável. Jamais sonharam haver no mundo coisas tão prazerosas. Sua gratidão para com o rei não tinha limites. As infelizes criaturas não podiam falar, mas quando o rei passava, todos se levantavam e se curvavam, acenando com as mãos e mostravam a ele, na linguagem dos sinais, o quanto apreciavam o que estava fazendo por elas. Todas as manhãs, ao se levantarem, louvavam o rei na linguagem dos sinais.

O rei estava satisfeito por eles o honrarem deste modo. Estava tão contente que chamou o ministro e deu-lhe algumas instruções:

"Este grupo de pessoas mudas desfrutou de uma longa e agradável estadia em meu palácio. Despeça-os agora e convide em seu lugar um grupo de mendigos que falem. Eles louvarão meus atos nobres com palavras e não apenas com gestos e sentir-me-ei ainda mais honrado."

Então, um grupo de pessoas pobres e falantes foi convidado ao palácio e tratado com deleites que nunca haviam experimentado. Os mendigos estavam tão ocupados em divertir-se que esqueceram do rei a quem deviam sua boa sorte. Nenhum deles pronunciou uma palavra sequer de agradecimento e, quando o rei passava por eles, ignoravam-no completamente. Logo, os mendigos esperavam suas comodidades com naturalidade e exigiam prazeres como se lhes coubesse por direito. Certo dia, decidiram se apoderar do palácio e depor o rei. Enfurecido, este chamou o ministro:

"Expulse estes mendigos de meu palácio," ordenou ele. "Faria melhor convidando novamente os mudos; eles não podiam expressar sua gratidão com palavras, mas me honravam da melhor maneira possível. Estas pessoas falantes, porém, que poderiam me trazer tanta glória com o poder da fala, revoltam-se contra mim!"

A ordem do rei foi cumprida."

A chave para a parábola

Quando H'Shem criou o mundo, encheu-o com água. A água não podia louvá-Lo com palavras, mas fazia rolar suas ondas ruidosamente em alto e bom som, proclamando: "Como H'Shem é poderoso!"

H'Shem então disse:

"Se até a água canta Meus louvores, imagine o que farão os seres humanos que podem pensar e falar!"

Então o Criador removeu a água para os oceanos. Na terra seca, criou seres humanos dotados de inteligência. Porém, ao invés de louvar ao CRIADOR, revoltaram-se contra Ele, cometendo pecados. Ao invés de usar o cérebro e o poder da fala para objetivos positivos, tramavam atos maus, difamaram, insultaram e injustiçaram-se uns aos outros. Todas as gerações depois de Adam foram igualmente perversas. D'us observou seus atos tornarem-se cada vez piores e disse:

"Vou livrar-Me desta gente e trazer de volta a água que estava na terra no início da Criação. A água não pode pensar e nem falar, mas louva-Me, enquanto que as pessoas Me enfurecem com seus atos vis!"

Por esta razão, D'us trouxe o dilúvio à Terra, eliminando os perversos.



Águas, sinal de Renovação

Somente as águas podem trazer de volta a intimidade com H'Shem. A Tradição Judaica, deste tempo muito remoto sabe disso, que são as águas que revigoram nossa alma com o Todo-Poderoso. Através de um banho ritual, num Micvê apropriado, restauramos esta ligação.

Um camelo pode ficar dias sem beber águas, no entanto, quando toma novamente pode ingerir até 140 litros de água em 10 minutos. Quando vemos um camelo com as corcóvas baixas, tipo magras, é porque está desidratado, porém quando 'mata' sua sede, elas se revigoram, e ficam cheias novemente.

Assim, as águas revigoram tudo, porque necessitamos dela, tanto físico, como espiritual.

Pelo Mabul, a terra foi revigorada, e através de Noach a nova humanidade estava prestes a receber uma aliança. Creio eu, que H'Shem não quiz ,simplesmente, de forma aleatória destruir o mundo, e sim revigorá-lo, porque daquele dia em que Noach desceu da Tevá, o mundo foi outro. Haveria leis que conduziriam seus servos, o que depois culminou com o chamado de Abraham Avinu.

Estas leis são as chamadas SETE LEIS DOS FILHOS DE NOACH.
Breve falarei disso.

O que fica agora é isso: As águas são regeneradoras em todos os tempos. H'Shem disse:

"Não tornarei a ferir todo [ser]vivo como fiz [no Mabul, com águas]"
Bereshit 8:21c

Se no Mabul, os humanos, através de Noach tiveram uma renovação (a aliança Noética), os judeus tem sempre consigo seu 'pequeno mabul', chamado de MICVÊ.


Usar as águas como fonte renovadora é um CONCEITO JUDAICO



2 de Cheshvan de 5771 da Criação!